Chimbarongo: Tradição e Artesanato no Coração do Vime Chileno
Localizada a pouco mais de 100 quilômetros da capital do país, Santiago, falar em “mimbre (vime) é sinônimo de Chimbarongo.
Tebni Pino
Assim como no Estado de Santa Catarina, mais específicamente na serra catarinense há inúmeras ciudades (Areião, Bocaina do Sul, Itajaí, Barbaquá, Rio dos Cedros, Rio Rufino, entre outras) onde os artesãos se dedican à confecção de móveis e artigos de vime, no Chile existe um pequeno povoado chamado Chimbarongo cuja tradição relacionada com a feitura de móveis, cestas e artigos a tem transformado na capital chilena do vime
Localizada a pouco mais de 100 quilômetros da capital do país, Santiago, falar em “mimbre (vime) é sinônimo de Chimbarongo onde hoje, ao redor de 300 dos seus quase 30 mil habitantes mantém a tradição herdada de país e avós, que começaram, ainda que timidamente, fabricar cestas que eran utilizadas na colheita dos produtos agrícolas em 1672, conforme os registros da prefeitura local.
Hoje, entretanto, a fineza da sua produção ultrapassou os antigos moldes e não existe casa que não se gabe de ter alguna peça fabricada nesse pequeno povoado. Melhor ainda. Seus artesãos são anualmente chamados a concorrer de um prêmio internacional que anualmente se realiza na cidade polonesa de Nowy Tomysl, onde pela primeira vez participou um chileno de nome Miguel Ortega que obteve o premio de melhor artesão do mundo no ano de 2015.
Assim como Miguel, outros artesãos têm competido nas diferentes categorías obtendo, quase sempre, os melhores galardões pois, sem falsa modéstia, a cultura do vime está no DNA dos seus habitantes que se prezam de ter os melhores entre seus iguais.
O LONGO CAMINHO À PERFEIÇÃO
O que para alguns trabalhar o vime poderia ser entendido apenas e tão somente como um ganha pão, para os cultores desta fibra vegetal, entretanto, é um desafio diario. Já não é suficiente fabricar cestas e artigos menores. Hoje os melhores móveis que decoram as salas de visitas nasceram em Chimbarongo. Também as verdadeiras esculturas que podem se encontrar na cidade.
Famosa, por exemplo, é a “Última Ceia” feita inteiramente deste material e que fica no altar da principal igreja de Chimbarongo, “Nossa Senhora da Mercé”, trabalho liderado por um dos mais afamados trabalhadores da cidade, Rodolfo Castro, falecido há poucos anos. O trabalho foi encomendado pelo pároco local e hoje, mais do que um cartão postal da cidade, é a marca registrada do capricho com que enfrentam cada desafio todos seus cultores.
Miguel Ortega é um bom exemplo disto. Famosos são seus pingentes de teto feitos com perfeição quase exagerada. Por qué?, perguntamos. “Porque o objetivo da nossa oficina, onde trabalhamos 3 irmãos, é deixar nossa marca que se caracteriza pela perfeição. Daquí não pode sair nenhum artigo feito às pressas ou com falta de capricho nas terminações”.
Só Miguel? Absolutamente não. A grande maioria tem ido aperfeiçoando o trabalho na medida que a freguesia, cada vez mais exigente, assim o exige. É o caso de Enrique Toledo, outro artesão da cidade que além do seu trabalho, está se dedicando ensinar seu pequeno filho, Maximiliano, os macetes e segredos do tecido. “Tenho com ele, porém, um tremendo problema. Ele nasceu canhoto e quando trabalhamos juntos uma mesa, por exemplo, fatalmente nos encontramos tecendo, eu pelo lado direito e ele pelo esquerdo o que nos obriga combinar muito bem o avanço da tarefa”.
Outros artesãos, entretanto, e apesar das suas avançadas idades não querem deixar de trabalhar. “E não se trata apenas do dinheiro que isto nos ofrece -disse Juan Cornejo, acima dos seus 79 anos e mais de 50 de ofício- senão que parar possivelmente nos mataria. Não poderiamos deixar de colocar as mãos no vime e ver como a ideia se materializa no trabalho concluido a inteira satisfação do cliente”.
Esta apreciação se repete também em outros artesãos também de avançada idade. Juan Alcántara e Claudio Toledo que já ultrapassaram a barreira dos 70 não deixam de observar o trabalho dos descendentes. É o caso de Francisco “Pancho” Alcántara, o joven neto de Juan quem se esforça por superar o seu mestre, seu propio avó.
Claudio Toledo, entretanto, tem dedicado seus últimos anos recriar antigos objetos de uso diário nas casas do interior do país como são os tecidos dos garrafões de vinho, ou seus “secadores de roupa” que eran colocados sobre os braseiros quando a chuva ou o frio dos invernos obrigavam à família ficar em torno do calor do carvão
É tudo cor de rosa? talvez… Porém…
Ficam, no final da conversa com cada um deles algumas preocupações. A primeira, uma doença que os atinge a todos sem distinção de idade. A tendinite (ou tendonite) que aparece com o tempo devido às longas horas das mãos na água onde a fribra deve permanecer enquanto é trabalhada.
O outro problema é a falta de aposentadoria pois todos são trabalhadores independentes e não contribuim ao sistema de seguridade social que lhes garantiría, ao menos, uma pensão mínima e só resta que o Estado, através de programas de assistência aos mais pobres, entregue uma pensão que com sorte alcançaria para comprar remédios.
Porém o que mais indigna (e o reclamo se repete entre todos os artesãos), é a gula dos comerciantes que expõem na beira da estrada que atravessa a cidade rumo ao sul do país e que invariavelmente inflacionam os precos dos productos feitos por eles, quando menos, num 100% e que segundo os artesãos, “não saben sequer tecer uma fibra de vime mas que levam a maior parte do lucro encima do nosso trabalho”.
Perante este fato o prefeito da cidade, Marco Contreras, se comprometeu resolver e que, por enquanto, significa colocar faixas identificadoras nos bairros onde se localizan os trabalhadores, além de impulsionar, como ven sendo nos últimos anos, uma festa anual no mes de março, chamada “Feria del mimbre” (Feira do vime), com altíssimo número de turistas numa festa que já é tradicional na cidade e marca o roteiro turístico do país pela qualidade da exposição.